A nossa história começou, inesperada e apressada. Embarcámos numa viajem a dois, sem malas feitas, fomos de cabeça movidos pela emoção. Era forte demais para se conseguir conter. E aí esqueci-me da bagagem que trazia de trás, do passado, das mágoas e desilusões que
arrastava comigo. Logo eu, que estava decidida a não comprar mais esse bilhete de ida, estava agora destinada a ir e a não querer voltar. Não contava que
viesses tu, de rompante e sem aviso, soar o alarme do meu coração.
Desconfiada que história assim não seria escrita para mim, tentei dar voz a um medo que camuflado, ainda cá vivia dentro.
Talvez na esperança de que, ao fazê-lo, me sentisse mais segura e em controle. Essa falsa premissa que é somente
um disfarce. Uma capa de quem talvez não tenha ainda aprendido a deixar-se ser vulnerável com outro alguém.
Num só momento intenso e fugaz, conseguimos viver uma montanha de
emoções. A vontade de estar contigo era agora um ímpeto sem igual.
Mas a orquestra que parecia perfeitamente afinada, acabou por se revelar
desastrosa. Duas almas que tentavam rugir ao mesmo tempo, intensas e cada
vez mais alto. Duas fortes personalidades que juntas enfrentavam os próprios
impulsos. Aqui estávamos nós, num barco à deriva num mar descontrolado.
Nada fazia prever este rumo e tudo me fazia crer que afinal esta história se
tornaria na prova viva de que não poderia amar.
De que afinal a força que me puxava a ti era incompatível com o que conseguia exprimir e que as palavras me saiam tortas porque as linhas não estavam certasMas o tempo tem o seu jeito de nos ensinar que quando algo é sentido deste jeito, não pode escapar assim. Não antes sem luta. Não antes sem empenho e dedicação. O tempo, esse sábio, ajuda a afastar as nuvens dos pensamentos e a despoluir as memórias. Ajuda a que se sinta de longe o que se quer sentir perto. A desejar e a sonhar.
Por isso o tempo tornou-se um capítulo na nossa história.
Nela escreveu linhas e linhas em branco que contam um longo suspiro nosso.
Fala sobre a saudade que senti e os receios que projetei em nós.
Fala do medo demasiado real que tenho em te perder. Da descrença que tinha no amor e de como a tua ausência me fez acreditar nele outra vez. De como estar longe de ti foi como uma longa e inexplicável falta de ar. De como esta contraditória sensação de te querer e o temer é o motivo pelo qual adormeço e acordo todos os dias. Que com ele aprendemos a aceitar e a respeitar as nossas diferenças e que elas não devem ser entrave para continuarmos, juntos, fazendo o exercício de olhar um para o outro com afeto e atenção e assim aprendendo a aceitarmo-nos melhor.
Contigo voltei a acreditar que seria possível esta história ser escrita para mim.
O meu coração descongelou e enche-se a cada dia mais de um sentimento bom que me leva a querer ser melhor pessoa todos os dias.
Aprendi que o caminho mais fácil seria virar as costas ao desafio que é entregar-me a alguém e seguisse, mais uma vez sozinha. Mas é a dois que a vida é mais feliz, ainda mais quando vivida em harmonia.
Acredito que esta poderá vir a ser uma grande e verdadeira história de amor. Esta passagem ensinou-nos que somos nada mais do que dois marinheiros que aprendem a velejar a vida a dois e que seremos eternos aprendizes deste caminho de mares instáveis, mas muito promissor,
Aqui estarei sempre para te abraçar.