13 julho 2012

A realidade dos nossos hospitais



Felizmente, digo, felizmente que não conhecia muito bem a realidade dos nossos hospitais. Fiquei uma vez internada uns dias, por um problemazito, mas foi na minha terra natal, do qual nada de mal tenho a apontar, fui sempre muito bem acompanhada. Infelizmente estes últimos dias, os hospitais têm sido a nossa casa e fomos confrontados com uma dura e crua realidade, a de que quem não pode pagar pela sua saúde, que é o bem mais precioso que temos, está sujeito a condições e tratamentos quase desumanos. Mas como digo, foi a nossa experiência, não posso generalizar. E não tenho problemas em referir nomes, porque as verdades têm que ser expostas. 
Sábado, o meu namorado deu entrada de urgência no Amadora-Sintra por volta das 13h30, com muitas queixas num ombro, devido a uma grave queda. Pois se vos disser, que mesmo com fortíssimas dores e imensas queixas dele, só lhe fizeram os devidos exames deviam ser umas 20h00 e só lhe puseram algo a segurar o ombro (que estava completamente descaído e sem qualquer suporte!) deviam ser umas 23h00 e só foi internado á 1h30 da manhã, conseguem perceber a nossa aflição nesse dia. Para além disso, cada vez que pedia qualquer coisa para as dores era quase apedrejada pelo médico ortopedista, que era duma arrogância sem igual. Escolheu a profissão errada digamos.
Passado esse pesadelo, veio o suposto tratamento. Digo suposto, porque de facto, nunca chegou a acontecer nenhum. Domingo ainda não sabiamos o que ele tinha ao certo, disseram-nos muito por alto..sem grandes exatidões, ficámos quase a perceber o mesmo. Só quando viamos as dores que ele tinha é que percebiamos que deveria ser algo muito grave. Disseram-nos que teria que ser operado, a operação ficou marcada para 2ªfeira (urgência). Nesses dois dias ninguém o ajudou a limpar-se, ninguém o ajudava sequer a comer, visto que sem um braço e com dores agonizantes não conseguiria levantar-se para pegar num talher, nem ir ao wc. Quando tinha mais dores, chamava o enfermeiro, vinha uma auxiliar, que não o podia ajudar, esperava e acabava muitas vezes por nem aparecer. Eu percebo que tenham muita gente, mas não se esqueçam que eles existem nas salas! E estando a ser muito concisa, segunda-feira foi a gota de água. Não o alimentaram o dia inteiro, visto que ia para cirurgia, até que ao fim de contas lhe disseram que afinal já não iria ser operado nesse dia. Ficou sem comer, fraco com dores, á espera e afinal tinha sido só uma troca de alas. Começaram-nos a dizer que só operavam 2ºas e 4ºas mas que agora ia-se meter a greve dos médicos, então não tinham previsão para a operação e que se surgissem situações de mais urgência passariam à frente. Sim porque a situação dele para eles não era urgente, com um ombro deslocado e partido sujeito a criar infeções e destruir os tendões! (viémos a saber mais tarde que seria o que possivelmente teria acontecido, tal era a gravidade da situação). Até que percebemos que ele ali nunca mais iria ser ajudado. O próprio médico sugeriu que ele fosse para casa..sim leram bem..para casa! esperar até ser chamado para cirurgia. Não estamos a falar de algo que possa esperar, mas duma situação que precisa de ser tratada praticamente na hora! Foi a gota de água. Percebi então em primeira mão todas as queixas que tinha ouvido desse mesmo hospital. Situações incrédulas de negligência, que não queria aceitar que seria verdade. Conhecemos pessoas que estavam lá na mesma situação que nós, revoltadas, sem respostas. Uma mulher que ia ser operada pela 11º vez!!! Porque aquilo estava constantemente a infectar, tal seria o desleixo na operação. Um próprio amigo nosso, foi operado no mesmo hospital e já tem que recorrer a nova cirurgia devido a infeção. Eu não compreendo!!! Eu compreendo que a diferença entre o público e o privado, seja a de que no privado não têm nem metade das pessoas, nem metade dos problemas e falta de recursos por que atravessam todos os dias o público. Os médicos e enfermeiros do público são mal pagos, não têm condições de trabalho e é quase por amor á camisola, mas a falta de profissionalismo eu não compreendo! E isso pode acontecer tanto num como noutro sector, mas a nossa realidade foi a que nessa mesma 2ªfeira transferimo-lo para o Hospital Cuf Descobertas, ás 17h00 deu entrada, ás 19h00 já tinha todos os exames feitos e nós familiares estávamos esclarecidos sobre o que ele realmente tinha. Falaram connosco calmamente, explicaram tim tim por tim tim o que tinha e o que iriam fazer para o tratar. Terça-feira foi operado com sucesso por uma equipa fantástica. Esteve internado até ontem, sempre extremamente bem acompanhado, tratado e bem informado sobre todos os procedimentos. Paga-se é verdade, paga-se caro para se ter saúde e é aí que sei o bom que o dinheiro faz á nossa vida, apenas nesse aspecto, dá-nos segurança para termos garantias de que estamos bem. Mas sem isso, ele ainda estaria por tratar e possivelmente o tratamento não seria tão favorável à sua recuperação como será agora. E aí assusto-me por pensar, quem não pode, quem não pode sequer pedir emprestado para ter uma boa saúde, assusta-me pensar que são deixadas ao abandono, apenas porque um sistema não funciona de forma eficaz e esta é a realidade assustadora do nosso país.

4 comentários:

  1. Fico revoltada com essas situaçãoes!! E por mais que os médicos reclamem da sua situação, não percebo a diferença de atitude que têm no público e no privado, porque na verdade são os mesmos médicos que trabalham em ambos os serviços. Se conseguem ser atenciosos e prestáveis no privado, no público tb têm obrigação de o ser. Uma vergonha autêntica a forma como o teu namorado foi tratado...bj

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  2. Oh se sei o que isso é, tenho acompanhado situações dessas nos últimos 4 anos. Mesmo a simples pedra num rim que já tive fui mal tratado, mal acompanhado etc acabas por ter que ser tu a explicar aos médicos/enfermeiros como devem proceder para puderes ir embora, se te apanhas com a pulseira verde, esquece saires de lá tão cedo.

    Ao meu pai agora com a nova lei tiraram-lhe a insenção médica a 31 de Abril, agora para pedir devido a ter uma doença crónica e menos de 60% de mobilidade tenho que andar de um lado para o outro, pedir atestado médico ao delegado de saude que ainda vai convocar uma junta médica, e ainda não sei se tenho que deslocar-me com o meu ai a Lisboa ou ao centro de saúde para ele ser avaliado.

    O engraçado entre privados e públicos é que muita vez os médicos dos privados são os mesmos que nos públicos e tens tratamentos diferentes, €€€€€.

    O meu pai quando foi operado ás vistas, a primeira foi feita no dia marcado a segunda (marcada para o mes seguinte) foi adiada para um ANO depois, devido ao dia da marcação haver greve.

    Ainda bem que o teu namorado ficou bem, o tempo que demoraram podia ter ficado com mazelas irrecuperáveis, é uma tristeza mesmo.

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  3. A minha avó esteve internada no amadora-sintra, na unidade de cuidados intensivos e só posso falar bem dos médicos e enfermeiros dessa unidade. Das outras unidades e muito menos da direcção do hospital em si, só posso dizer horrores. Posso-te dizer que a minha avó foi transferida pelo hospital para uma clínica que viemos nós a saber que estava ilegal, e ainda por cima sem autorização de ninguém da família. Mais, a tal clínica, era apenas um antro onde punham os mais velhos para não ocuparem camas no hospital. Mais: a minha mãe fez de tudo para tirar a minha avó da tal clínica, e o médico que estava de serviço ameaçou logo a minha mãe que se o fizesse, não iria dar o nome dos medicamentos e que nenhum hospital a iria aceitar a minha avó como paciente. Ficámos com as mãos atadas, e apesar de tentarmos de tudo para conseguir transferência para outros sítios, a minha avó acabou por falecer passados uns dias por negligência.

    E há quase 2 anos, o meu gajo em duas semanas foi umas 4 ou 5x ao hospital de cascais onde lhe diziam sempre que o que ele tinha era uma constipação, ou gripe, ou infecção na garganta. Sempre que ele lá ía, davam nova medicação, e ele a piorar a olhos vistos. Acábamos por ir à cuf na inft santo: para além do tratamento 5*, descobriram que não era nada do que tinham dito, mas sim uma bactéria. Esteve internado 5 dias, e foi tratado que nem rei.

    As melhoras ao teu namorado*

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  4. É mesmo chocante. Ainda bem que tiveram possibilidade de recorrer ao privado, mas nem todas as pessoas têm... nem quero pensar nas consequências. Um beijinho e as melhoras.

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